Sou guapo como um leão.
Índio velho sem governo,
Minha lei é o coração."
[Érico Veríssimo - Um Certo Capitão Rodrigo]
Sob esse céu pouco estrelado
Por fora de minha janela
Todo encoberto de nuvens e desagrados
Ao som da água que escorre
Por detrás de minhas esperas
Deitada em mim eu me questiono
No costumeiro atraso de meu sono
Nem sei se ouves
Nem sei se sentes
Que te sussurro distante e ingenuamente
Vem de teus campos e tuas tantas primaveras
Dá-me esse corpo ora preso em minha tela
Me acalma o peito, me preenche o leito e me socorre
Te intimo humilde umidamente
Acaso não ouças
Decerto sentes
Que por detrás da chuva que nos espera
O tom é manso desse ano que já morre
E deitada em ti eu me derramo
Ao nosso certeiro passo, eu te amo
Toda descoberta de vertigens e musicados
Por dentro de minha querela
Sob esse céu rouco e carregado
"O que a princípio fora apenas desejo carnal agora
era também um pouco ternura: era amor. E o cap.
Cambará inquietava-se por isso. Porque sempre lhe
parecera que o único amor digno dum homem era
esse que apenas pede cama. O amor de fazer ou cantar
versos e mandar flores, esse amor de doer no peito,
de dar saudade era amor de homem fraco. Ele cantava
versos que falavam em tiranias, saudade e mágoa, só
por brincadeira, sem sentir de verdade as coisas que
dizia. No entanto, agora estava enfeitiçado por Bibiana
Terra. E, em fins daquele dezembro quente e parado,
Rodrigo Cambará pela primeira vez compreendeu
o profundo sentido dum ditado popular:
'Quem anda cego de amor não sabe se é noite ou se é dia'".