Ao meu vô Daniel, com toda a minha saudade e admiração
pelos seus 82 anos
e outros tantos que virão.
Os avôzinhos
São feitos de uma substância
Que tem um quê de querência
Um susto de sustância
E sopro de pura infância
Contra o tique besta do relógio.
Presença de muita relevância
Dos idos tempos de criança
Em dunas, castelos de almofada e varianças
E nas danças do colégio.
Com uma firmeza que não se encerra
E uma grandeza que não se toca
Conquistou uma rainha, mundos, fundos e corações.
Ele veio lá da Meruoca
Casinha humilde meio à serra
Longe que nem um impropério.
Pois o meu vô é um caso sério
Matéria de sonhos e canções
Por tudo isso e o que não sei...
Márrapaz...
Que descoberta!
Capaz de num ser vô, mas rei!
Daí chegou o momento de conhecer a casa
Finamente decorada, muito estilo e bom gosto
Com toques pessoais, rústicos, cults e um ou outro santo
Da viajante madura e independente
Perfeita materialização da mulher moderna
Que aquela noite era nossa anfitriã.
No quarto, qual a surpresa dos convidados!
Sobre a cama, nas prateleiras, na mesinha da varanda
Inúmeros bichos de pelúcia amontoados.
Tantos que diante da inusitada cena,
Um curioso impertinente logo soltou:
Bichos de pelúcia han! Quem diria!
Não sabia que eras fã!
A mulher então irrompeu em colérico pranto.
Falava como uma autêntica adolescente,
Rejuvenescida em dois atos:
São todos presentes do meu ex-namorado...
Encheu o lugar com esses fofinhos, que encanto.
Entupiu o quarto e debandou, o desgraçado
Em cinco anos nunca percebeu que eu tinha alergia!